Me descreva em uma palavra: gordo

Me descreva em uma palavra e dirá: gordo. Todos meus outros aspectos serão irrelevantes. Quem é Diego? É aquele gordo!

Certo dia, nesse mesmo blog, dois comentários conflitantes sobre mim:

  • O que você tem de gordo você tem de burro
  • O que você tem de gordo você tem de inteligente

Sou burro? Sou inteligente? Penso que sou inteligente, alguns discordam – é um debate aberto. Só temos que tomar cuidado para não esquecermos que sou gordo. Nunca.

Hipócritas alguns dirão se preocupar com minha saúde. Não se preocupam comigo aqueles que molham suas críticas insossas no saboroso molho do preconceito. Como o estuprador que beija a vítima, como o senhor que poupa o escravo do tronco, a opressão sempre tenta se discursar de amor, mas tanto oprimido quanto opressor sabem.

Me descreva em uma palavra e dirá aquilo vê de mais importante, um resumo, um colapso da minha existência em um único ponto, como uma estrela que se demole espetacularmente sobre si mesma. A supernova de meu ser lançaria no espaço minha alma por completo, todos os meus feitos, meus ossos e cabelos, restando apenas aquilo que de mais essencial se vê em mim: um gordo é sempre resumido à sua gordura.

Uma dia, meu irmão me contou sobre a língua dos índios antigos. Dizia ele que os tupis não podiam entender a expressão “minha árvore” pois para estes era inconcebível alguém possuir uma árvore: uma pessoa possui mãos, pés, orelhas, mas não árvores. Como poderia a árvore ser minha se ela está separada do meu corpo?

Tolos somos nós que acreditamos possuir coisas que existem independente de nós simplesmente porque conseguimos controlá-las. Você irá morrer e aquele seu espremedor de laranja que você nunca usou continuará existindo inútil e ignorante de sua morte – você nunca o possuiu, você só o controlou.

Seu corpo, porém, será sempre seu e nunca de outro, sua única e intransferível propriedade. Quando tentam controlar seu corpo, acreditam possuí-lo, como um espremedor de laranja.

Gordo então sou de direito, que vim ao mundo de boca e pança e meu corpo me pertence. Por que se incomodam tanto com isso?

Talvez meu tamanho seja grande demais para caber em suas mentes diminutas.


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