Isso pode vir como uma surpresa para muitos de vocês, mas é a mais pura verdade: ninguém é pobre.
Depois de décadas escutando por aí que a vida é difícil para quem é pobre, pode ser um pouco intragável o fato de que, no fim, não há mesmo ninguém no mundo que seja pobre.
Sempre ouvi falar que gente rica, quando boa de alma, dá seu dinheiro aos pobres. Pois que loucura, que devaneio, dizer uma coisa dessas agora que sabemos que ninguém é pobre. E que ninguém é rico.
E você que sonhou ser rico, que bobagem. Ninguém é rico. Ninguém pode jamais ser rico.
Talvez essa confusão toda seja só um erro tolo de tradução. Veja bem, os norte-americanos dizem:
– Some people are poor.
– Some people are rich.
E é verdade.
Mas quando traduzimos:
– Algumas pessoas são pobres.
– Algumas pessoas são ricas.
Isso já não é verdade, pois sabemos: ninguém é pobre e ninguém é rico.
Essa coisa de achar que o mundo está dividido entre ricos e pobres vem de achar que pobreza e riqueza são características das pessoas. Uma idéia largamente baseada em preconceito e ignorância.
Maria é pobre – disseram.
É mesmo? E onde está a pobreza dela? Nos cabelos? Na pele? Nos traços? No sotaque, na língua? Puro preconceito, Maria não é pobre. Ela é como eu e você: humana, capaz, incrível, portadora do cérebro mais avançado do mundo – talvez do universo.
Maria não precisa de ajuda, não precisa de caridade. Maria não precisa que alguém lhe empreste um sapato. Ela não precisa que alguém lhe estenda a mão. Maria, assim como todo mundo no mundo, não é pobre.
Maria, como quase todo mundo no mundo, está pobre.
Estar pobre ou rico não tem a ver com o que você é – isso não é você, é apenas sua condição. E essa condição é imposta, pasmem, pelos outros que te cercam.
Fosse você sozinho no mundo e não poderia estar pobre nem rico. Poderia pescar em qualquer rio, dormir sob qualquer árvore e plantar em qualquer chão – não poderia ser pobre. Mas não poderia comer peixes que não pescou, dormir sob tetos que não construiu ou colher o que não plantou – não poderia ser rico.
Duas constatações óbvias que algumas pessoas tem dificuldade de aceitar, por motivos emocionais:
– Pobreza e riqueza são invenções humanas.
– Os que estão pobres trabalham para os que estão ricos.
Existe ainda uma outra condição mais degradante que a pobreza: a miséria. Essa é a condição daqueles que foram excluídos completamente do jogo.
Não existe ninguém que seja miserável, tampouco. Ser miserável também não é algo que faz parte de você, é algo imposto a você.
Se você está miserável, não consegue nem trabalhar. Não tem força para arranjar trabalho pois não come direito. Não tem onde tomar banho para ser socialmente aceito em ambiente profissional. Não tem acesso à educação e cultura e será tomado como chucro, ignorante, menos capaz.
A miséria também é uma invenção humana. Toda invenção tem seu propósito, e o papel da miséria é manter os pobres trabalhando para os ricos. Se você já esteve pobre, sabe que o fantasma da miséria te mantém devidamente empregado e sem reclamar, mesmo que estejam te explorando.
Nós humanos já inventamos tantas coisas idiotas: instrumentos de tortura, bombas nucleares, monociclos, impressoras…
Hoje não usamos mais essas coisas. Por que não abrir mão também da pobreza, da riqueza e da miséria – outras invenções idiotas?
É que estar rico é como na música de Dominguinhos e Nando Cordel:
Olha, que isso aqui tá muito bom!
Isso aqui tá bom demais.
Olha, quem tá fora quer entrar!
Mas quem tá dentro não sai.
O que achou?