Imagine

Imagine o seu planeta.

Provavelmente algo assim deve ter vindo à sua cabeça:

Terra - Google Earth

A maioria de vocês irá reconhecer essa imagem como a Terra, o nosso planeta, a nossa casa.

Essa imagem foi tirada por mim do software Google Earth, a evolução dos já milenares globos terrestres. Se você algum dia teve uma aula de Geografia, provavelmente já viu um desses também:

Globo Terrestre

Essas belezinhas rechunchudas estão no imaginário popular como fiéis representações de como é o nosso mundo. Uma grande bola azul, com detalhes em marrom e verde, cheia de água que não escorre pelo Polo Sul porque Newton nos ensinou como a gravidade funciona.

Desde a metade do século passado, nossa espécie conseguiu tecnologia suficiente para mandar para o espaço macacos, cachorros, pessoas, satélites e, mais importante, câmeras fotográficas. Resultado disso é que nosso simpático planetinha tem hoje uma coleção de auto-retratos de dar inveja a qualquer perfil do Instagram. Somos produto e parte da Terra, então quando tiramos uma foto dela, é a Terra fotografando a si mesma – moramos no mais narcisista dos planetas.

Acontece que nenhuma das duas imagens acima é muito realista. Abaixo, segue uma foto de verdade do nosso mundo:

Terra - Foto

Compare essa foto com a primeira. Compare com o globo de plástico. O que tem de tão diferente?

Muitos de vocês vão notar a abundante camada de nuvens que recobre o nosso velhinho de 4.54 bilhões de anos com uma vasta barba branca. Outros mais atentos vão notar que essa é uma foto de 2005 quando o furacão Katrina chegava no sul dos EUA para devastar Nova Orleans.

O que poucos vão notar é que as duas primeiras imagens constituem uma adulteração grotesca do retrato da Terra. Elas introduzem um conceito artificial e perigoso: as fronteiras.

Olhe atentamente a última foto. Onde exatamente está o Uruguai? Onde começa o Rio Grande do Sul? Onde termina o México e onde começa o Texas?  Onde termina a América do Norte e onde começa a América Central?

Vendo assim, de longe, de cima, fica aparente uma verdade óbvia, mas muito ignorada: as fronteiras não existem. Tampouco portanto, existem os países ou estados. México, Brasil, Texas, São Paulo… isso só existe na cabeça dos homens. Só existem em nossas mentes e em acordos temporários entre nós.

John Lennon era músico, cantor, ativista e poeta, entre outras coisas. Nasceu onde na época chamavam de Inglaterra, morreu onde na época chamavam de Nova Iorque. Em algum momento entre esses dois eventos, escreveu uma música, Imagine, que nos convidava a imaginar:

“[…] Imagine que não há países
Não é difícil de fazer
Nada pelo que matar ou pelo que morrer
E sem religião também

Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz […]”

– John Lennon

Não é difícil de fazer, na verdade não precisamos nem imaginar, é só olhar. São as fronteiras que precisam de imaginação, não a ausência delas.

Reinos, condados, feudos etc… todos foram se juntando e se expandindo até se encostarem uns nos outros, acordos foram feitos e definiram fronteiras. Hoje não há um único pedaço de terra habitável no mundo que alguém não chame de meu país. Fatiaram o mundo, fragmentaram, e enfiaram na nossa cabeça que ele é um complexo quebra-cabeça de 200 peças.

puzzle-map

Agora, com um mundo estilhaçado, querem nos convencer que devemos nos orgulhar de fazer parte de um específico caco de terra. De lutar e morrer pelo caco. Até quando seremos tão estúpidos?

Tendo a sorte de viver em um mundo esférico, naturalmente sem bordas, resolvemos criar bordas imaginárias para nos limitar.

A Terra, silenciosamente, ignora.

Terra - Foto
“And the world will live as one”

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